Durante a semana em que Natal sediou o EliSummit 2025, evento nacional que reúne lideranças e representantes de ecossistemas de inovação de todo o país, o município de Currais Novos (RN) recebeu uma visita técnica especial. Quase 40 pessoas, vindas de nove ecossistemas de inovação da Bahia, desembarcaram no Seridó potiguar na segunda-feira (3) para conhecer de perto um dos cases mais inspiradores de inovação no interior do Nordeste.
A visita antecedeu o início do EliSummit, que começou na terça-feira (4), em Natal, reunindo uma programação prática e inspiradora. Em sua quarta edição — e a primeira fora de Pernambuco — o evento proporcionou aos participantes uma imersão nas experiências de inovação potiguares, com visitas técnicas a instituições de destaque no estado, entre elas o Instituto Santos Dumont e o Parque Científico e Tecnológico Augusto Severo (PAX), o Instituto do Cérebro/UFRN, o Alto do Potengi, a Cachaçaria Extrema, a Escola Agrícola de Jundiaí, entre outros. Cada roteiro apresentou diferentes formas de conexão entre ciência, empreendedorismo e desenvolvimento local.
Em Currais Novos, a comitiva baiana foi recebida por representantes do Sebrae-RN, da Prefeitura Municipal, da CDL, de instituições de ensino e de empreendedores locais que integram o Ecossistema Local de Inovação (ELI). O município tem se destacado como exemplo de articulação entre o setor público, a iniciativa privada e o terceiro setor, consolidando-se como um modelo de governança colaborativa e inovação descentralizada.
Para Célio Vieira, gerente da Agência do Sebrae Seridó Oriental, a visita reforçou o papel de Currais Novos como referência no interior do país. “O Sebrae Bahia já estava vindo para o EliSummit e aproveitou para conhecer o Ecossistema de Inovação de Currais Novos, que hoje é um case. Vieram acadêmicos, empresários e técnicos do Sebrae, e essa oportunidade de mostrar o que fazemos e, ao mesmo tempo, conhecer o trabalho deles, é uma troca muito saudável. Eles ficaram extremamente satisfeitos com o que viram — o avanço que tivemos, principalmente na capacidade de conectar o setor público, a iniciativa privada e o terceiro setor. É um ecossistema maduro, onde todos têm uma participação efetiva, sem vaidades, e o resultado é fruto da colaboração de todos”, destacou Célio do Sebrae Currais Novos.
A gestora de projetos Liliane Rodrigues, do Sebrae Bahia, explica que a visita foi planejada para inspirar os ecossistemas baianos e mostrar que a inovação é possível mesmo em municípios de pequeno porte. “Trouxemos nove ecossistemas para o EliSummit e organizamos a visita a Currais Novos justamente para conhecer um case de sucesso de um município pequeno, que serve de inspiração. Logo nas primeiras visitas, todos ficaram encantados com o senso de pertencimento e com a identidade local. Tudo leva o nome do Seridó, e isso mostra o quanto as pequenas mudanças e os investimentos em educação fazem diferença. Visitamos a Escola Única, onde o ensino é associado ao empreendedorismo, e vimos o quanto isso impacta a comunidade. A interação do poder público também chamou atenção: fomos recebidos pelo antigo e pelo novo prefeito, ambos engajados na causa da inovação”, enfatizou a gestora do Sebrae Bahia.

Entre os integrantes da caravana, Lara Santos, Agente Local de Inovação de Vitória da Conquista (BA), destacou o quanto surpreendeu o engajamento da gestão pública e a aplicação prática dos conceitos de inovação: “tudo foi construído de forma estratégica, com pessoas do interior do interior, levando uma cultura de inovação real. Vimos a valorização do pequeno produtor, do jovem e o entrosamento entre todos os atores. A hélice do governo funciona de verdade, com participação da Câmara, dos gestores e dos empreendedores. Isso é raro. Currais Novos mostra como a inovação pode surgir de um território que já passou por ciclos econômicos como a mineração, mas se reinventou de forma colaborativa e sustentável”.
Para ela, a experiência reforçou a importância de visão de longo prazo e diversidade econômica como motores da transformação territorial. “Tudo o que a gente fala na teoria está sendo aplicado aqui, com amadurecimento e respeito. Ver isso acontecer no sertão potiguar é inspirador”, completou Lara Santos.
A percepção foi compartilhada por Simone Jordão, integrante da comunidade do Ecossistema de Inovação de Lauro de Freitas (BA), que avaliou a visita como um divisor de águas. “Nossa expectativa era conhecer um ecossistema que tivesse conseguido florescer longe da capital, mas o que vimos foi além. Ficamos boquiabertos com o nível de organização, a ausência de ego e o entendimento de uma construção coletiva. É impressionante como a cultura de inovação permeia tudo. Vimos entrega genuína, pessoas com brilho nos olhos e uma mentalidade de transformação que inspira”, frisou Simone.
A baiana reforçou ainda que Currais Novos mostra que as referências de inovação não precisam vir apenas do Sul do país: “vimos que é possível fazer muito quando há articulação honesta e interesse genuíno. A inovação passa pela educação e transforma a vida das pessoas. Aqui, a teoria virou prática e a prática virou vida real”.
A visita técnica à cidade potiguar reafirmou que o futuro da inovação não está restrito aos grandes centros urbanos. Em Currais Novos, a força da colaboração e o protagonismo local transformaram um território marcado pela mineração em um laboratório vivo de novas ideias, onde a educação empreendedora, a tecnologia e o desenvolvimento sustentável caminham lado a lado.

