A cafeicultura e seu potencial de integração regional foram o ponto de partida dos seminários promovidos pelo Sebrae-RN na Festa do Boi 2025, um dos maiores eventos do agronegócio do Nordeste, que começou nesta sexta-feira (10) e segue até o dia 18 de outubro, no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim.
A abertura da primeira atividade, realizada no Palco Juntos pelo Agro, contou com a presença de João Hélio Cavalcanti, diretor técnico do Sebrae-RN; Mona Nóbrega, gerente da Unidade de Desenvolvimento Rural; Carmen Sousa, gestora nacional de Cafeicultura do Sebrae; e Elton Alves, gestor de Pecuária e da Agência Sebrae Festa do Boi — espaço dedicado à programação da instituição durante o evento.
Em sua fala, João Hélio destacou a resiliência do produtor potiguar diante das condições adversas da agropecuária nordestina. “Se fôssemos analisar apenas o clima, muito do que produzimos não seria possível. Mas provamos que o nosso solo é fértil e promissor. Mais do que isso, temos pessoas que fazem dar certo — e essa é a principal diferença quando queremos implantar uma atividade econômica. Quem disse que não poderíamos ter morango ou café? Produzimos com excelente qualidade e valor agregado. Não precisamos brigar por volume ou preço, mas nos dedicarmos à melhor qualidade”.
O primeiro painel do seminário, Panorama e Perspectiva da Cafeicultura no Nordeste, reuniu a engenheira agrônoma Jéssica Marcelle (UFPB), especialista em café arábica; o professor doutor Guilherme Podestá, responsável pelo projeto “Resgate da Cafeicultura no Brejo Paraibano”; a gestora nacional de Cafeicultura do Sebrae, Carmen Sousa; e a cafeicultora potiguar Gerlane Magalhães, de Portalegre.
Qualidade e sustentabilidade no centro do debate
O painel evidenciou que o futuro da cafeicultura nordestina passa pela busca por qualidade e sustentabilidade. Segundo Carmen Sousa, o Brasil é o maior produtor e o segundo maior consumidor de café do mundo — e o Nordeste tem um papel crescente nessa cadeia.
“Hoje atuamos em 15 estados brasileiros, e a estratégia nacional inclui a região Nordeste. Estamos falando de um resgate da cultura do café em estados como Ceará e Paraíba, além da revitalização em outras áreas. A Bahia já é o quarto maior produtor do país, mas a região como um todo tem uma diversidade de sabores e terroirs muito ricos. O Nordeste é próspero, e a cafeicultura também será”, destacou Carmen Sousa, gestora nacional de Cafeicultura do Sebrae.
Carmen ressaltou ainda o protagonismo potiguar. “Nos últimos quatro anos, vemos o quanto essa cultura tem se fortalecido no Rio Grande do Norte. Nenhum outro estado do Nordeste está fazendo o trabalho que o RN está realizando na disseminação e motivação da cafeicultura regional”.
Um legado familiar e um novo propósito
Entre os destaques do painel, a produtora Gerlane Magalhães, de Portalegre, compartilhou sua história de retomada da produção de café iniciada por seu pai há quatro décadas. “Meu pai tinha uma plantação com 3 mil pés de café, mas que ficou esquecida após a seca. Ele faleceu há sete anos, e desde então venho retomando esse legado. Como a mandioca já não gera a renda de antes, estou apostando no café — mas quero um café de qualidade, não apenas mais um no mercado”.
Gerlane conta que o reconhecimento veio aos poucos. “Lembro que, quando experimentaram o café, disseram que tinha sabor de caju, de doce de caju. Fiquei surpresa, porque até então não percebia isso. Aos poucos, vamos aprendendo a sentir o sabor, a entender o café — e isso me deixa muito feliz. Nunca imaginei que o meu café chegaria a esse nível”.
Café com sabor de Nordeste
O seminário também contou com a presença de produtores e representantes de outros estados, como Thiago Jardel, da Paraíba, que aposta no turismo como aliado do café especial. “Trata-se de um café gourmet, pensado para proporcionar uma experiência sensorial, aliada ao turismo, elemento fundamental em nossa cidade. A troca de experiências em eventos como este é essencial. Observando o que os colegas fazem, podemos aprimorar nossas práticas e fortalecer toda a cadeia produtiva”, afirmou.
De Alagoas, Cristina Loureiro, analista da Unidade de Competitividade Setorial do Sebrae, relatou o início de um projeto voltado à cafeicultura local, ainda em fase de estruturação.
“A experiência tem revelado que a cafeicultura no Nordeste está mais avançada do que esperávamos. Antes, nossa principal referência era a Bahia, mas hoje vemos possibilidades concretas em vários estados. O contato com os Sebraes do RN e da Paraíba nos inspira e orienta para alcançar o mesmo nível de desenvolvimento”, destacou Cristina Loureiro, analista da Unidade de Competitividade Setorial do Sebrae Alagoas.
Agência Sebrae Festa do Boi
O Sebrae-RN participa da Festa do Boi 2025 com um espaço de 5 mil m² voltado à inovação, sustentabilidade e fortalecimento da economia potiguar. De 10 a 18 de outubro, no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, o público encontrará palestras, oficinas, exposições, experiências gastronômicas e oportunidades de negócios em diversas cadeias produtivas. A programação inclui a Fazendinha Modelo, a Queijeira Artesanal Nivardo Melo, a Exposição de Queijos Artesanais do Brasil, o espaço Feito Potiguar e atividades da Economia Criativa, além de ações de educação ambiental e neutralização de carbono. Mais informações: agenciasebraefestadoboi.com.br.