A região mais populosa de Caicó, a Zona Norte, está se transformando em um verdadeiro polo de desenvolvimento econômico. Com aproximadamente 18 mil habitantes – número que a colocaria como a quarta cidade mais populosa do Seridó, se fosse um município independente –, a região concentra hoje 1.365 empresas dos setores de comércio, serviços e indústria, segundo dados do BI do Sebrae.
Do total, 63,4% são Microempreendedores Individuais (MEI) e 28,2% Microempresas (ME). Esse potencial levou um grupo de empreendedores locais a se mobilizar para criar uma associação, com o apoio do Sebrae, visando fortalecer o comércio de bairro, gerar novas oportunidades e ampliar a representatividade da Zona Norte.
Os números mostram a relevância dessa articulação. Dos empreendimentos ativos, 548 pertencem ao setor de serviços, 534 ao comércio e 281 à indústria. A diversidade e a força desses segmentos indicam uma base sólida para que a Zona Norte ganhe mais visibilidade e alcance novos mercados. Vale lembrar que, segundo o Censo 2022, apenas 49 municípios do Rio Grande do Norte contam com mais de 18 mil habitantes, dado que coloca em perspectiva a importância populacional e econômica da região no cenário estadual.
Mesmo antes da formalização da associação, os empreendedores já se organizam em um grupo de WhatsApp e realizam reuniões periódicas para definir estratégias conjuntas. Uma das primeiras ações de capacitação promovidas em parceria com o Sebrae foi a oficina Instagram para Empresas – “Crie conteúdo que vende”, realizada na noite dessa terça-feira (16), no Sesc Seridó.
Ministrada pela especialista Adelle Nogueira, consultora do Sebrae, a atividade reuniu mais de 30 empreendedores, que discutiram como posicionar seus negócios de forma estratégica nas redes sociais e atrair clientes por meio do marketing digital.

Segundo José Rangel, analista técnico do Sebrae, o movimento começou há dois meses, quando dez pequenos empreendedores procuraram a instituição em busca de orientação sobre como formalizar uma entidade que representasse os negócios da Zona Norte.
“O público-alvo desse momento são microempreendedores individuais, microempresas e pequenas empresas, que é o foco dos negócios aqui da Zona Norte de Caicó, a nossa maior região. Há uma grande possibilidade de nascer uma entidade representativa, mas também para se fazer negócios. Eles querem que seja uma associação que ajude a tomar conta dos destinos dessa região, tendo como objetivo principal fazer os negócios crescerem e atrair novos investimentos”, destacou Rangel.
O analista acrescenta que a perspectiva de instalação de um complexo industrial próximo à RN-118 deverá consolidar ainda mais o papel da Zona Norte como polo econômico. Ainda de acordo com Rangel, até o fim do ano estão previstas novas oficinas voltadas para atendimento ao cliente, estratégias de vendas e motivação empresarial.
“No futuro, quem sabe daqui a três ou quatro anos, poderemos ter a maior concentração de empresas de Caicó instalada nessa área, que vai atrair empreendedores de toda a região”, disse Rangel.
A previsão é que ainda em setembro será concluída a minuta do estatuto, junto à comissão do grupo de empreendedores. A meta é registrar o documento em cartório até o final de dezembro e iniciar 2026 com a associação completamente regularizada.
A mobilização já reflete na rotina dos empreendedores locais. Jocifranio Santos, proprietário da Barbearia Dom Barbudo, instalada há sete anos no bairro Boa Passagem, é um dos articuladores da iniciativa. Para ele, reter o público consumidor na própria região é o primeiro passo. “A gente já vinha com essa ideia há algum tempo, porque percebíamos que muitas pessoas daqui não desfrutavam do comércio local e se deslocavam para o centro da cidade. A inspiração veio do exemplo do Alecrim, em Natal, que se transformou em um dos maiores polos de compras da capital. Vemos essa potencialidade aqui também. Agora, com a chegada desse polo industrial, vamos crescer ainda mais”, afirmou.

O empresário destacou também a adesão crescente dos colegas: “na primeira reunião, tivemos apenas três pessoas. Hoje já somos mais de 50 empresários no grupo, e essa oficina com mais de 30 participantes já mostra um resultado positivo. Com o suporte do Sebrae, a associação vai sair do papel e ampliar ainda mais as oportunidades para os empreendedores da Zona Norte”, ressaltou Jocifranio.
Durante a oficina, a consultora Adelle Nogueira reforçou a importância da presença digital para negócios de todos os portes. “A Zona Norte está despontando como um polo comercial muito importante para Caicó. E, assim como qualquer negócio, pequeno ou grande, a presença digital é essencial. O Instagram é uma ferramenta democrática, onde milhares de pessoas estão conectadas diariamente. Se o seu cliente está lá, a empresa tem a obrigação de estar também, oferecendo uma experiência de relacionamento humanizada”, afirmou.
Além da programação da oficina, 15 empresas estão recebendo mentorias personalizadas no tema de marketing digital.
Instagram dá visibilidade para conquistar clientes de outros bairros
A especialista em marketing estratégico apresentou dados que reforçam a necessidade de estar nas redes sociais: o Brasil conta com 180 milhões de usuários ativos em redes sociais, que passam mais de cinco horas por dia conectados (Hootsuite/We Are Social, 2024). Além disso, 87% dos brasileiros seguem pelo menos uma marca nas plataformas (Febraban/Toluna), e 74% afirmam que as redes sociais influenciam suas decisões de compra (Global Web Index).
“Se o seu cliente potencial já está aqui (Instagram), ele vai te encontrar ou vai encontrar o seu concorrente?”, provocou a consultora.
Entre as dicas práticas, Adelle destacou que o Instagram é a vitrine do microempreendedor por diversos motivos: baixo custo, alcance local ou de nicho, contato humanizado, catálogo de vendas e anúncios acessíveis.

Sobre o que postar, a consultora do Sebrae elencou: bastidores do negócio, depoimentos de clientes como prova social, dicas rápidas para se posicionar como especialista, produtos com fotos de qualidade e enquetes para aumentar a interação. Ela também mostrou as facilidades com o uso da inteligência artificial: “A pergunta certa pode te salvar”. A consultora orientou que o empreendedor seja específico no pedido, defina formato (post, carrossel, Reels), explique o tema, dê contexto do nicho e público-alvo, estabeleça objetivo (vender, engajar, informar) e defina tom de voz adequado.
A empreendedora Eliane Alves, proprietária da Biroska da Eliane, restaurante e marmitaria da Boa Passagem, participou da oficina e compartilhou sua experiência prática com as redes sociais.
“Fiz um teste de ficar uma semana sem postar no Instagram para provar ao meu filho, que era resistente a usar a rede, e as vendas caíram 40%. Isso mostra que inovação é buscar onde está errando e procurar melhorias. As redes sociais são essa saída”, relatou a empreendedora que hoje conta com clientes de toda cidade.
Com um grupo cada vez mais fortalecido e novas capacitações em curso, os empreendedores da Zona Norte de Caicó mostram que o comércio de bairro pode ser um vetor de desenvolvimento econômico e social.