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Café, memória e progresso: a renovação que aquece o Nordeste

O mercado de cafés especiais cresce no Brasil e abre novas oportunidades para produtores do Nordeste.
Por Especial na Festa do Boi 2024
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A bebida quente mais amada do Brasil não apenas resiste como importante atividade econômica do país, mas tem encontrado, na diversificação do produto e pela qualificação de padrões, a expansão e valorização de mercado. Afinal, quanto custa manter a tradição com sabor e qualidade?

Tradicional, gourmet, especial, o café não é mais só um café; ele se diferencia na torra, no cheiro, na intensidade e na acidez. E é este “movimento” um dos maiores impulsionadores do consumo e das vendas do grão. Assim destaca o cafeólogo Edgard Bressani, ao avaliar os dados de produção mundial que indicam que o consumo de café cresce, em média, 2% ao ano globalmente. No entanto, ao se tratar do mercado de cafés especiais, “o crescimento é ainda mais rápido, variando de acordo com a maturidade de cada mercado”.

“Em alguns países, como a Arábia Saudita, o crescimento é de 25%. Enquanto alguns mercados ainda estão em fase inicial, outros já estão mais maduros, mas, de qualquer forma, o crescimento dos cafés especiais é expressivo”, frisa o especialista, que também é presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC). Dessa forma, segundo ele, o cenário é uma oportunidade para as novas produções, cada vez mais emergentes, inclusive no Nordeste.

Mesmo que a porcentagem aparente ser pequena, 2%, se mantivermos esse crescimento anual, será necessário dobrar a produção mundial de café até 2050. Atualmente, produzimos cerca de 170 milhões de sacas, e teremos que alcançar 300 milhões para atender à demanda. Isso significa que há espaço para expansão da produção,afirma Edgard Bressani, presidente da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana (AMSC).

Oportunidades no Nordeste

Segundo Bressani, inicialmente, o movimento de cafés especiais era muito concentrado na região Sudeste, sendo a maior parte dos produtos exportados, mas, com o tempo, esses projetos passaram a investir em cafés com pontuações superiores.

“Hoje, esse movimento não está mais restrito aos grandes centros urbanos. No Rio Grande do Norte, por exemplo, já é possível encontrar cafés especiais em cidades menores, com um público que busca mais qualidade, como aconteceu com o vinho no passado”, ressalta.

Diego Castro, produtor do Café Jaçanã. | Foto: Moraes Neto

No espaço Origem Potiguar, na Agência Sebrae durante a Festa do Boi 2024, já é possível comprovar este contexto. O Café Jaçanã, com uma história familiar de mais de quarenta anos, é exemplo dessa retomada. A uma distância de aproximadamente 155 km de Natal, em Jaçanã, uma plantação cafeeira está ressurgindo. “Meu avô trabalhava com café, com o antigo Café Rio Grande. Passamos por um período de mais de quinze anos sem cultivar café, e a cultura foi ficando um pouco desgastada”, conta Diogo Castro, 44, que está expondo seu produto na feira.

Em meados de 2020, a família passou o período de isolamento devido à pandemia de Covid na fazenda e começou a ter um novo olhar para os mais de 2 mil pés de café. Diogo conta que, desde então, a cada ano estão renovando a cultura e focando em cafés especiais, para agregar valor e aumentar a renda. “Hoje, nossa propriedade abrange toda a cadeia do café, desde o plantio até a xícara. Também estamos abrindo para visitação, promovendo imersão no mundo do café e mostrando as qualidades e tipos de grãos. Isso tem gerado uma boa rentabilidade. Ainda não estamos lucrando significativamente, mas o café é uma cultura de médio a longo prazo, e acreditamos que chegaremos lá”.

A cafeicultura e a inovação 

Este resgate da cafeicultura também acontece no estado vizinho, no Brejo Paraibano. Formado há quase dois anos, o Núcleo de Estudos em Cafeicultura da Universidade Federal da Paraíba objetiva formar estudantes e profissionais para atuarem na área, além de fornecer apoio técnico a quem deseja empreender no setor.

“Com o Núcleo, conseguimos trabalhar toda a cadeia produtiva, desde a produção de mudas até a comercialização, que é fundamental para fomentar nosso projeto. Além disso, o Núcleo nos permite realizar pesquisas e extensão, fornecendo dados e resultados que ajudam os produtores da região a cultivar café”, explica Thiago Gomes, estudante do 8° período de Agronomia da UFPB e presidente do Núcleo.

Atualmente, já existem mais de 20 produtores ligados ao projeto em cidades como Areia, Bananeiras e Lagoa Grande, que passaram a implantar a cultura do café por meio do Núcleo.

Thiago Gomes, estudante de Agronomia presidente do Núcleo de Estudos em Cafeicultura da UFPB. | Foto: Moraes Neto

No espaço de exposição da Agência Sebrae na Festa do Boi 2024, o grupo de alunos apresentou uma parte dos resultados de seus trabalhos nas áreas experimentais, os cafés Grãos da Parahyba. “A universidade possui dois experimentos onde esses cafés são cultivados. A partir desses experimentos, conseguimos realizar pesquisas e divulgar os resultados para os produtores”, explica.

Thiago expõe ainda que alguns produtores ligados ao projeto plantaram a cultura há dois anos e terão a primeira colheita este ano, ainda em pequena escala. No próximo ano, o grupo espera um volume maior e “talvez já possamos trazer alguns cafés desses produtores para eventos como este”, afirma.

Comunidade Espresso Hub: fomentando o ecossistema cafeeiro no RN

Recentemente, o Sebrae-RN e a SeaHub lançaram a Comunidade Espresso Hub, que reúne, num só lugar, os atores que compõem o ecossistema do café, desde produtores rurais, passando por torrefadores, baristas, proprietários de cafeterias e amantes de um bom café.

O objetivo da iniciativa é fomentar o segmento cafeeiro no Rio Grande do Norte, promovendo um ambiente propício para o desenvolvimento de negócios e networking. Elton Alves, gestor da área de Cafeicultura do Sebrae-RN, junto com Maria Luiza, gestora de alimentos e bebidas do Sebrae-RN, representa a instituição na Governança da Comunidade ao lado de representantes do SeaHub, Senac, ABRASEL, RN Coffee, produtores, torrefadores, baristas e amantes do café.

Agência Sebrae na Festa do Boi 2024 sediou a primeira edição brasileira da Olimpíada do Café. | Foto: Luana Tayze

Promovido pela Comunidade Espresso Hub, a cafeicultura e o mercado do café foram destaques na programação da Agência Sebrae na Festa do Boi 2024. Nos dias 13 a 15 de outubro de 2024, o Rio Grande do Norte foi palco da primeira edição brasileira da Olimpíada do Café. A programação contou ainda com uma roda de conversa com especialistas do ramo: Edgard Bressani, idealizador da Olimpíada e fundador da exportadora Coffee Soul Brasil, e Gelma Franco, empresária e palestrante com mais de 20 anos de experiência no setor.

Sebrae na Festa do Boi 

A Agência Sebrae na Festa do Boi é o espaço de atendimento estruturado pelo Sebrae-RN em uma área de 5.000m² no Parque Aristófanes Fernandes em Parnamirim/RN durante a tradicional Festa do Boi, que está em sua 62º edição. A Agência é caracterizada por este ecossistema colaborativo que fomenta a inovação e sustentabilidade nos pequenos negócios rurais e vem se consolidando a cada edição como uma grande central de negócios para os nossos empreendedores locais.

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