Natal – Mesmo correndo o risco de comprometer o futuro do negócio e acabar se endividando, três em cada cinco Microempreendedores Individuais (MEIs) já usaram o capital pessoal para quitar as despesas da empresa ou o inverso. Esse tipo de transação é considerada um risco por especialistas e pode acabar gerando problemas financeiros tanto para o negócio quanto para o próprio empreendedor. Cerca de 60% dos MEIs acabam cometendo esse erro. Isso é o que mostra uma pesquisa feita pelo Sebrae com mais de 6,1 mil donos de empreendimentos registrados nesta categoria jurídica em todos os estados e no Distrito Federal, entre o fim de 2022 e o início deste ano. Somente no Rio Grande do Norte, 180,6 mil negócios estão formalizados como MEI.
A segunda edição da Pesquisa Hábitos de Uso de Produtos Financeiros revela essa falta de planejamento financeiro entre a maioria dos microempreendedores. E essa atitude fica mais evidente em momentos de retração econômica, quando a conta do negócio se confunde com a da pessoa física, misturando entradas e gastos das despesas da empresa com o orçamento pessoal. O levantamento também indica que 67% dos empresários usam aplicativos de bancos tradicionais e fintechs para realizar as transações envolvendo dinheiro.
Na visão dos especialistas em finanças, a separação das contas é fundamental para não cair na armadilha do falso lucro e não ter prejuízos. A recomendação é manter um controle rigoroso das finanças do negócio antes mesmo de enfrentar crises de caixa. Planejamento e gerenciamento são a alternativa. O uso de ferramentas para a gestão financeira, desde o início, permite uma melhor gestão do negócio como um todo. Ao adotá-los na rotina da empresa, o empreendedor previne-se, por exemplo, de eventuais sustos no caixa da empresa, podendo realizar um planejamento mais adequado.
De acordo com o gerente da Agência Sebrae na Grande Natal, Thales Medeiros, mesmo a formalização como MEI sendo muito simplificada, não é motivo para o empreendedor se descuidar da área financeira, uma das principais fragilidades identificadas neste tipo de negócio. “A atenção deve ser dobrada. A recomendação é o MEI separar bem o caixa da pessoa física e da pessoa jurídica. Isso evita problemas financeiros futuros pessoais e para a empresa”.
Anote tudo que é retirado da empresa
Uma dica para não cair no erro é anotar tudo o que é retirado ou utilizado, em forma de produto ou serviço. É importante deixar claro o que é retirado do pró-labore, ou seja, um maior controle do que é despesa pessoal e o que é despesa da empresa. Por exemplo, gastos com luz e fornecedores são despesas da empresa, enquanto gastos com lanches são despesas pessoais .Para quem nunca fez um controle financeiro, a tarefa pode parecer complicada. Mas é preciso ter consciência de que no começo vai dar trabalho, mas os benefícios logo serão percebidos, após o período de no mínimo um mês.
Dinheiro sob controle
A falta de controle faz o dinheiro sumir mais rapidamente. O MEI não conhece, exatamente, a disponibilidade de caixa e nem tem projeção de fluxo de caixa para os meses seguintes, permitindo que muito dinheiro seja empregado em despesas que não trazem retorno para o negócio. Com a gestão financeira controlada e devidamente planejada, o MEI pode evitar dívidas. E sabendo exatamente quanto fatura e quanto gasta, pode até planejar empréstimos que são necessários de fato, com vistas ao crescimento do negócio.
O gerente dá um conselho para quem está com o caixa da empresa no vermelho. A tendência natural é usar dinheiro pessoal para cobrir as despesas usuais do negócio quando isso acontece, o que é um equívoco. O mais apropriado é se planejar para antever cenários de apertos. Caso seja inevitável, o ideal é analisar o acesso ao crédito bancário mais adequado para a necessidade, seja de investimento ou para capital de giro, mas conforme capacidade de pagamento da empresa.
O Sebrae mantém uma equipe de analistas técnicos na área financeira e contadores credenciados que podem auxiliar o MEI nesse planejamento e na orientação para obtenção de crédito. O empreendedor pode buscar esse serviço nas agências ou agendar atendimento pelo 0800 570 0800.