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Explorar o Geoparque Seridó vai muito além de visitar sua cidade-sede, Currais Novos; é um convite para mergulhar na essência da região, descobrindo sua cultura, paisagens e os aspectos únicos de sua geologia e meio ambiente. Durante a 20ª edição da RuralTur, feira de turismo rural realizada de 21 a 23 de novembro em Currais Novos, os participantes tiveram a oportunidade de vivenciar novas experiências por meio de roteiros planejados para conhecer este território reconhecido como de relevância mundial pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Seis itinerários distintos exploraram as cidades que compõem o Geoparque — Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova e Parelhas — com a participação de caravanas de estados como Mato Grosso do Sul, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Espírito Santo e de cidades do Rio Grande do Norte.
“A principal ideia desta parte da programação é proporcionar aos visitantes uma imersão no Geoparque Seridó, abordando não apenas a biodiversidade e a geologia, mas também destacando as pessoas e os atores que formam o geoparque”, explica Verônica Melo, coordenadora geral da RuralTur, gerente da Unidade de Desenvolvimento Setorial do Sebrae-RN. Além disso, a intenção é garantir que todos os territórios do Geoparque sejam impactados pelo evento.
Um dos roteiros percorreu localidades importantes de Currais Novos, destacando componentes históricos da cidade, além de elementos que justificam sua inclusão no Geoparque, associados a vivências culturais e de interação com a comunidade local. O itinerário incluiu três geossítios: Morro do Cruzeiro, Pico do Totoró e Lagoa do Santo. No total, o Geoparque Seridó compreende mais de 2.800 km² e 21 geossítios, distribuídos entre as seis cidades participantes.
Conduzido por Raianne Kelly, guia de turismo natural de Currais Novos com 25 anos de experiência, o grupo iniciou o trajeto pelo Morro do Cruzeiro. Localizado na área urbana da cidade, o geossítio abriga uma formação rochosa com cerca de 575 milhões de anos. O local oferece uma vista panorâmica de Currais Novos e das serras ao redor, sendo também palco de eventos religiosos, culturais e turísticos.
O roteiro seguiu para o Pico do Totoró, marco do início do povoamento da região, com paradas na Pedra do Caju, no açude Totoró, e na Lagoa do Santo, próxima à Pedra do Sino. Em cada um desses pontos, os visitantes apreciaram formações rochosas únicas e pinturas rupestres, encontradas na Lagoa do Santo, onde também foram descobertos fósseis de animais.
O passeio também ressaltou as particularidades da fauna e flora da região, incluindo plantas nativas como angico e jurema-preta, e diferentes tipos de cactos, como cardeiro, facheiro e xique-xique. A umburana, planta típica da caatinga usada para esculpir e na fabricação de tonéis de cachaça, chamou atenção pela sua relevância cultural e econômica.
Um dos momentos mais marcantes foi o almoço na comunidade Quandú, organizado pela Associação das Mulheres Produtoras Rurais da Comunidade do Quandú e Adjacências de Currais Novos (AMPRORQUA). Com a marca alimentícia Delícias do Quandú, o grupo não apenas ofereceu uma refeição caseira e regional, mas também promoveu um espaço de troca de vivências e aprendizado sobre empreendedorismo rural, fortalecendo o vínculo entre visitantes e a comunidade local.
Valorização local se destaca entre visitantes
Ir além do conhecimento dos pontos turísticos, promovendo a valorização das tradições locais, foi um dos elementos que mais chamou a atenção do grupo durante a visitação. Sandra Barcelos, analista do Sebrae Maranhão, gestora de Turismo e Agro no polo Chapada das Mesas, se surpreendeu com esse diferencial, citando que a visita foi especialmente interessante pelo modo como a guia, sendo nativa da região, abordou o conteúdo. “Ficou muito claro a valorização do pertencimento por ser uma guia nativa”, relatou ela, que estava visitando um geoparque pela primeira vez.
Para Sandra, a experiência complementou o painel do primeiro dia do evento, que discutiu a importância dos geoparques para a interiorização do turismo. “Temos o interesse de levar todo esse conhecimento para o nosso polo. Afinal, estamos no Nordeste, com culturas diversas que podem se conectar e reforçar que o Nordeste não é apenas praia”, destaca.
Flávio Colar Rocha, de Conceição do Castelo, no Espírito Santo, a 120 km da capital Vitória, compartilhou que essa vivência foi transformadora, especialmente por estar iniciando uma empreitada no setor de turismo. Ele tem buscado desenvolver uma rota turística no Vale do Emboque, em seu município. “Para mim, como alguém que está começando a atuar no turismo, essa experiência foi uma grande reflexão sobre a cultura local. O pouco de vocês é muito, e o muito que temos ainda não é tão bem explorado”, afirmou.
Turismo e comunidade: valorização do destino
O envolvimento da comunidade local com as ações de turismo ficou evidente durante a visita. Mais do que a atuação empreendedora dos moradores de Currais Novos, o crescimento do turismo na região, impulsionado pelo Geoparque Seridó, tem mudado histórias de vida. Um exemplo disso é Cristiane Galvão, uma das 17 mulheres que integram a Delícias do Quandú e fazem parte da Associação há 12 anos.
Ela conta que, devido ao seu envolvimento, buscou concluir os estudos e percebe até mesmo uma melhora em sua desenvoltura ao falar em público. “Quando conheci a Associação, achava que era algo impossível, que não daríamos conta. Mas hoje vejo que tem sido uma transformação para minha família e nossa cidade. Até mesmo meus filhos, estou conseguindo oferecer novos caminhos para eles”, compartilhou.
A AMPRORQUA existe há 14 anos, e foi fundada no mesmo ano que o Geoparque Seridó. O objetivo da Associação é estimular a geração de renda entre as mulheres produtoras rurais do município de Currais Novos. Entre suas atividades, destaca-se o beneficiamento de alimentos para venda a órgãos governamentais, como a merenda escolar. Um dos principais produtos são os doces e biscoitos, que já conquistaram o selo Geofood, comprovando sua conexão com o geoparque.
RuralTur 2024
A 20ª edição da RuralTur, Feira Nacional de Turismo Rural, acontece de 21 a 23 de novembro, na cidade de Currais Novos, no Largo do Coreto O Guarani, em um espaço de 6 mil m². O evento, que reúne mais de 4 mil pessoas, conta com 50 estandes e expositores de 8 estados brasileiros. Realizado pelo Sebrae-RN, em parceria com o Governo do RN e a Prefeitura de Currais Novos, a feira está consolidada como referência no setor, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento econômico e sustentável das áreas rurais por meio de uma programação rica e diversificada.
