Parnamirim – Alguns até torcem o nariz devido ao sabor intenso, outros apreciam justamente pelo gosto característico e a textura tenra da carne. Preferências e paladares à parte, o fato é que o consumo de carnes de ovinos e caprinos está em franca ascensão no Brasil – um mercado que demanda uma produção de mais de 203 mil toneladas desse tipo de carnes por ano, partindo de estatísticas não oficiais de que o consumo per capita no país é de um quilo e meio dessas proteínas animais por habitante, anualmente. Por isso, a criação de cabras e ovelhas se apresenta como uma boa oportunidade para investimentos e negócios, principalmente na região Nordeste. Porém, para a atividade ser viável, é preciso estar atento a alguns fatores técnicos, que estão facilmente ao alcance de qualquer criador.
Os principais requisitos para se obter sucesso com a ovinocaprinocultura foram repassados aos produtores do estado pelo médico veterinário Carlos Henrique de Souza. O consultor ministrou palestra sobre Boas Práticas Sanitárias na Criação de Ovinos e Caprinos, no último domingo (8), durante o seminário técnico do Projeto Rota do Cordeiro, realizado dentro da programação da Agência Sebrae Festa do Boi. O espaço está montado no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim (RN) até o dia 14, quando encerra a exposição agropecuária.
O especialista revelou os segredos para obter sucesso com criação de ovinos e caprinos. A solução, no entanto, não tem mistérios, é baseada numa tríade bem conhecida de qualquer pecuarista. “Eu sempre digo: tem um tripé para a atividade dar certo. Começa pela alimentação, vai para sanidade e fecha com a reprodução. Esses são os segredos para ter os melhores resultados com a ovinocaprinocultura”, revela Carlos Henrique.
Os detalhes dos três aspectos foram detalhados na palestra, cujos conteúdos tiveram enfoque na prevenção, com o objetivo de aumentar a lucratividade dos criadores de ouvinos e caprinos. Para pequenos criadores, a recomendação do médico veterinário, no quesito sanidade, é atentar sempre para a prevenção.
“Se o o produtor prevenir, é mais barato e mais eficaz do que tratar. Isso envolve a prevenção das enfermidades, calendário de vacinação contra raiva e crostidiose, além do controle da verminoses. O produtor pode fazer esse controle olhando a mucosa para ver se tem anemia ou papadas e observar os sinais clínicos. Aos primeiros sintomas, iniciar o tratamento. São práticas que ajudam a diminuir a mortalidade”, orienta Carlos Henrique.
Como exemplo de medidas, o especialista cita o descarte. É mais proveitoso, segundo Carlos Henrique, fazer um descarte de matrizes já pouco produtivas e improdutivas ou que apresentem algum defeito, principalmente no sistema da grade mamária. Quando acontece, o animal até chega a parir, mas o filhote morre cerca de duas horas depois por falta de leite. “O abate da matriz daria lucro ao invés de prejuízo”, adverte.
A nutrição, no entanto, é a maior aliada quando se quer obter lucro. Na visão do veterinário, é preciso fornecer uma alimentação adequada, independente da quantidade de animais. “Seja dez ou 100 animais, é fundamental nutrir bem esse rebanho. Bem nutridos, apresentam menos doenças e uma boa capacidade de reprodução. E a atividade só é rentável se tiver reprodução, seja para comercialização de leite ou carne. A cabra tem que parir para dar um cabrito e produzir leite. No caso do cordeiro, a ovelha precisa parir para tratar bem esse cordeiro e abatê-lo o mais rápido possível”, ensina o especialista.
Estruturação da cadeia
A atividade da ovinocaprinocultura vem evoluindo bastante no Rio Grande do Norte, que atualmente possui mais de 900 mil cabeças de ovinos e outras 450 mil de caprinos. Assim, apenas o estado do RN reúne mais de 1,3 milhão de animais dessas duas cadeias produtivas, cujo rebanho nacional até seis anos atrás totalizava 4 milhões de cabeças.
“Não temos números reais porque ainda boa parte da comercialização é informal, sem registro. Entretanto, temos crescido a cada ano. Para se ter uma ideia, há cinco anos, não tínhamos marcas próprias no Rio Grande do Norte. Hoje, temos uma – e bem comercializada – em Natal e outra em Mossoró”, compara o veterinário.
O especialista em caprinovinocultura faz um alerta para a importância de o estado planejar ações e políticas públicas de viabilizar a comercialização e confinamento desses produtos e começar a trabalhar agora na legalização de abatedouros e das alas de corte para crescer mais. “Nós [nordestinos] já temos a cultura de comer carne de caprinos e ovinos. O que precisamos é ter essa carne disponível sempre e com o padrão de qualidade exigido pelo consumidor final”, defende.
Capacitações como essas ofertadas na Festa do Boi fazem parte das ações da Rota do Cordeiro um projeto do Sebrae que atualmente atende de forma continuada 100 produtores no RN, disponibilizando consultorias técnicas, tecnológicas e gerenciais.
Rota do Cordeiro
Trata-se de uma iniciativa para o desenvolvimento da cadeia produtiva da ovinocaprinocultura e está baseada em eixos estratégicos. Um deles tem a ver com a gestão do negócio. Por meio de orientações técnicas e capacitações, os produtores recebem conteúdos e soluções sobre como realizar controles gerenciais e financeiros, e monitoramento dos resultados. Depois, os consultores trabalham as áreas de manejos reprodutivo, alimentar e sanitário.
Além do grupo participante diretamente do projeto, as ações foram estendidas a outros pecuaristas, que também foram capacitados por meio de palestras, orientações, cursos e oficinas em eventos e exposições agropecuárias mais de 1.000 pessoas, entre produtores, profissionais de açougues e abatedouros, mercados e supermercados e interessados na cadeia entre os anos de 2022 e 2023.
A 61ª Festa do Boi é uma realização da Associação Norte-rio-grandense de Criadores – ANORC e do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca, em parceria com a Prefeitura Municipal de Parnamirim, Sebrae-RN e Polo Sebrae Agro. O evento prossegue até o próximo sábado (14), no Parque de Exposições Aristófanes Fernandes, em Parnamirim, região metropolitana de Natal.