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Rota das cavernas: o potencial de interiorização que emerge sob os pés potiguares

Roteiro revela paisagens subterrâneas, fortalece a conservação ambiental e abre novas possibilidades para o turismo além do litoral
Por Redação
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A dimensão das belezas naturais do Rio Grande do Norte vai além do que salta aos olhos. Muitas delas estão, literalmente, sob nossos pés. As cavernas potiguares, com seus salões esculpidos ao longo de milhares de anos pela dinâmica da natureza, representam não apenas um patrimônio geológico, mas um potencial para ampliar a diversidade de atrativos turísticos do estado.

Em todo o Rio Grande do Norte, estão identificadas, até maio de 2025, 1.424 cavernas — posicionando o estado como o quarto do país em quantidade de cavidades oficialmente registradas. No entanto, para haver condições de visitação, o local deve cumprir critérios como segurança dos visitantes, riscos ao ecossistema subterrâneo e a necessidade de preservação do patrimônio espeleológico.

Foto: Daísa Alves

Atualmente, as cavernas e formações rochosas potiguares regularizadas e autorizadas para visitação integram a Rota das Cavernas. São elas: Casa de Pedra, em Martins; Sítio Arqueológico Lajedo de Soledade, em Apodi; Caverna dos Crotes e Caverna Catedral, em Felipe Guerra; além do Parque Nacional da Furna Feia, em Mossoró e Baraúna, que abriga mais de 200 cavernas, incluindo a Furna Nova e o Abrigo do Letreiro.

Segundo Diego Bento, chefe da Base Avançada do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV) no RN — entidade responsável pela pesquisa científica e conservação ambiental das cavernas — o RN se diferencia positivamente de outros estados que utilizam cavernas como atrativo turístico devido à regularização das áreas, à integração de percurso entre municípios, à atuação conjunta de entidades públicas, privadas e do terceiro setor, além da diretriz consolidada do plano de manejo das cavidades.

Expansão e diversificação do turismo no RN

Com 34 anos de atuação no turismo em Apodi, Adailton Targino, diretor científico da Fundação Amigos do Lajedo de Soledade (FALS), afirma que esta é a primeira vez que presencia uma iniciativa efetiva de interiorização do turismo no RN. “Embora já tenham ocorrido ações para atrair operadores de turismo, nunca se viu a união da força de cinco municípios com o apoio dos entes políticos, da iniciativa privada e do terceiro setor, incluindo ONGs. Tradicionalmente, cada um desses setores apresentava resistência, mas agora, pela primeira vez, observamos essa convergência em prol de um objetivo comum”, celebra.

Lajedo Soledade, em Apodi, conta com mais de 50 painéis com pinturas rupestres. (Foto: Daísa Alves)

Na mesma linha, Alexandre Dantas, presidente da ProTurismoRN — cooperativa que reúne empresas de emissivo e receptivo do Alto Oeste — avalia que o impacto da Rota das Cavernas é “extraordinário, pois representa a concretização de um desejo antigo: o crescimento do turismo na região Oeste e Alto Oeste potiguar, que se consolida como mais um produto turístico do Rio Grande do Norte”.

Estruturação para produto turístico

Visando o potencial da Rota das Cavernas para a interiorização do turismo potiguar, o Sebrae-RN e a Secretaria Estadual de Turismo (Setur) atuaram em parceria na sua construção por meio de um convênio que entregou projetos estruturantes de acessibilidade com mínimo impacto, além de estudos para o plano de gestão de riscos, identidade visual e ações de mercado, como uma famtour (visita técnica) com operadores de ecoturismo e aventura.

Foto: Zmmermann Ferreira

Segundo Yves Guerra, gestor de Turismo do Sebrae-RN, a visita permite que os profissionais conheçam os locais, equipamentos e toda a cadeia turística envolvida, capacitando-os a montar roteiros e incluir a Rota em seus portfólios.

A estruturação também foca na conservação, entendendo que o conhecimento do público sobre a biodiversidade e o potencial econômico incentiva a preservação. Sobre isso, o Idema-RN contribuiu aprovando um plano emergencial de visitação, que regularizou o acesso às cavernas — antes feito sem guias ou equipamentos — para garantir o mínimo impacto e a segurança dos visitantes.

Operadores com planos

Felipe Guerra é um dos municípios com maior número de cavernas e produto turístico consolidado. Foto: Zmmermann Ferreira

A nova estruturação dos espaços atrai um olhar diferenciado dos operadores de turismo, como Júlio Cesar, da Aloha Trilhas & Expedições. Ele conta que já conhecia a região, mas com outra abordagem. Atuando principalmente com expedições fora do estado voltadas ao público interno do RN, pretende, no próximo ano, criar rotas locais.

“Já fiz algumas viagens e excursões para o local, com uma proposta de turismo de aventura, mas nada focado nas cavernas. Então, a Rota das Cavernas entra como uma proposta bem específica, e que é algo que a gente só costuma ver lá fora. Aqui no Rio Grande do Norte é uma novidade, então tem um potencial incrível na minha opinião. Para mim, a famtour é uma oportunidade também de ver como está e como vou trabalhar a partir de então com essa proposta de roteiro”.

Já Djalma Neto, da Trieb Club Expedições, atua recebendo turistas do Sudeste, principalmente de São Paulo, e levando-os a destinos de sertão e mar, como travessias a pé de longo percurso e trekking litorâneo. A empresa opera na Costa Potiguara há mais de cinco anos e conduz rotas que seguem até Pernambuco, como o Vale do Catimbau e o Cariri Paraibano. “Já era uma intenção nossa, em 2026, criar uma rota só pelo interior do Rio Grande do Norte. A ideia é incluir a Rota das Cavernas, além de outros destinos como o Geoparque Seridó”, destaca.

Diferentes visuais e experiências

A Rota das Cavernas, no Rio Grande do Norte, revela paisagens cênicas e formações geológicas singulares. Em Martins, a Casa de Pedra se destaca como uma das maiores cavernas de mármore do país, oferecendo uma travessia que leva ao Quintal da Princesa, com sua vista peculiar da serra rochosa. Já em Apodi, o Sítio Arqueológico Lajedo de Soledade impressiona pela imensidão de rochas calcárias e pela riqueza de seus 56 painéis com pinturas e gravuras rupestres, constituindo um registro arqueológico vital para o estado.

Casa de Pedra, em Martins.

Outros municípios ampliam as experiências subterrâneas: Felipe Guerra detém a maior concentração de cavernas catalogadas, com destaque para Crotes e Catedral, onde aberturas naturais criam efeitos de luz, raízes de árvores se comportam como cortinados e espeleotemas remetem à arquitetura gótica. No Parque Nacional Furna Feia, lar de um grande remanescente de Caatinga, três cavernas estão abertas: o acessível Abrigo do Letreiro, com arte rupestre; a Furna Nova, notável pela profundidade de 30 metros, pela variedade de espeleotemas e pela alta concentração de gás carbônico; e a Furna Feia, que proporciona uma experiência de aventura por seus 300 metros de corredores e desníveis possíveis de serem visitados.

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