Mossoró – Com uma produção de 147 mil toneladas de castanhas registrada em 2022, o setor da cajucultura passa por processo de retomada no crescimento da produtividade no Brasil. A aposta para a virada de jogo passa pela adoção de ações empreendidas em conjunto entre os principais atores da cadeia produtiva, que busca reverter antigos gargalos para elevar a produção e conquistar mercado. Esse é o caso do recém-criado Comitê Permanente da Cajucultura, que congrega representantes de diversos nichos inseridos na cadeia produtiva do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia, estados que concentram mais de 90% de toda a produção da castanha de caju do Brasil. Reunido nesta quarta-feira (23), na Universidade Federal Rural do SemiÁrido (Ufersa), em Mossoró, o grupo discutiu demandas do setor e apontou soluções que serão apresentadas aos governos estaduais e federal.
Entre os itens abordados na reunião, destaque para problemas como a baixa industrialização e o aumento nas importações de amêndoas por parte das grandes indústrias. Segundo o presidente da Câmara Técnica de Cajucultura do Rio Grande do Norte, Elano Ferreira, juntos, tais gargalos provocam um verdadeiro desequilíbrio no setor.

“Se houvesse mais industrialização, a gente poderia aproveitar muito melhor a amêndoa, fazendo derivados, e também, uma série de outros produtos a partir do pendúculo, que hoje é quase todo desperdiçado. Além disso, temos que enfrentar a importação, que só cresce no país, e faz com que os preços praticados junto aos produtores aqui na ponta, desabem. Isso precisa mudar para seguirmos crescendo”, alerta Elano.
O diretor Técnico do Sebrae RN – instituição que possui assento no Comitê, João Hélio Cavalcanti Júnior, acredita que a atuação conjunta do grupo será estratégica para o fortalecimento da cajucultura. Para tanto, sugere medidas a serem adotadas a partir de agora em prol das mudanças necessárias para reverter o cenário negativo no setor. A reunião do Comitê contou com a participação do gestor do Projeto de Fruticultura do Sebrae-RN, Franco Marinho Ramos.

“Precisamos incluir e fomentar o desenvolvimento de derivados do caju, verificando a legislação vigente e questões de certificação. Também precisamos levar ao debate a possibilidade de taxação das amêndoas importadas, de modo que o produtor local tenha seu produto valorizado e preço justo, além de fortalecer as parcerias com as instituições de assistência técnica, para promover melhorias nos pomares. Vamos pleitear essas sugestões junto aos representantes dos governos e implementar as melhorias necessárias para o crescimento do setor”, defende.
Políticas governamentais
O chefe da Embrapa Agroindústria Tropical, Gustavo Saavedra, é taxativo. Para ele, “a maior dor” enfrentada pela cajucultura, atualmente, é a ausência de uma estratégia de industrialização. Segundo Saavedra, de nada adianta os produtores implementarem novas técnicas de manejo e melhoramento genético na cultura, se não há o compromisso por parte dos setores governamentais.
“O caju é uma fruta industrial. É a indústria que agrega valor, e nenhum setor está tão atrasado quanto a cajucultura nesse sentido. Nós vemos estratégia de energias renováveis, de políticas industriais voltadas para outros setores da agricultura, mas não há esse compromisso com a cajucultura, que emprega milhares de pessoas. Não existe uma política de estado no sentido de mudar essa realidade”, critica.
O consultor em cajucultura,

Vítor Hugo de Oliveira, compartilha pensamento semelhante ao defendido por Saavedra. Mas vai além ao alertar sobre outro prejuízo causado pela baixa implementação de políticas públicas voltadas à cajucultura por parte de órgãos governamentais. “Além de não haver incentivos à industrialização do setor no Brasil, ao permitirem a entrada cada vez mais crescente das castanhas vindas da África no país, as autoridades podem estar contribuindo para elevar o risco do surgimento de doenças comuns à cultura, como o oídio, a partir dos frutos que entram no nosso mercado. Isso é muito grave, pois implica diretamente na baixa produtividade”, ressalta.
Além do Sebrae, Embrapa e Câmara Técnica de Cajucultura do RN, o Comitê Permanente da Cajucultura conta com a participação do Instituto Caju Brasil (ICB) e de produtores dos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia.