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Artesãos usam talentos manuais para produzir arte e transformar vidas

Cerca de 9 mil potiguares fazem da produção artesanal um meio sobrevivência e não deixam que expressões artísticas populares e memórias afetivas caiam no esquecimento
Por Redação
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Natal – Toda vez que se vê uma cesta de palha de carnaúba, peças com bordados ou utensílios de cerâmica vermelha, o imaginário remete imediatamente a uma memória afetiva que está muito associada à região em que o artefato foi concebido. Em apenas um objeto, todo o esforço, conhecimento, técnica e especificidade tornam trabalhos manuais não industrializados em peças únicas. No Dia Mundial do Artesão, comemorado nesta sexta-feira – 19 de março – os mais de 9 mil artesãos do Rio Grande do Norte, que carregam a missão de não deixar o legado da arte popular cair no esquecimento, têm como desafio a valorização desse tipo de trabalho e, por consequência, uma maior inserção nos mercados nacional e internacional.

Nunca o regional foi tão global quanto no século da quebra das fronteiras e aproximação das pessoas, com o advento das redes sociais. E os artesãos estão incluídos nesse contexto de mostrar particularidades culturais de um povo ou de uma época para muitos através de habilidades manuais e técnica que as tipologias do artesanato exigem.

“O artesanato é o reflexo do seu povo, da sua cultura e dos seus hábitos. É assim em todo o mundo. Reconhecer o trabalho do artesão é reconhecer nossa história. Nossa capacidade criativa e de representatividade cultural. No estado, temos diversas tipologias que representam bem esse poder expressivo do artesanato. Desde as peças feitas com a palha da carnaúba, o trabalho com cerâmica, o bordado e até mesmo o artesanato com o tema religioso”, avalia Ana Ubarana, gestora do Projeto de Economia Criativa do Sebrae no Rio Grande do Norte, que atende também a esse público.

Os artesãos potiguares, cuja maioria (86%) é mulher, juntam-se a aproximadamente 8,5 milhões brasileiros, que se dedicam ao artesanato como atividade comercial, segundo dados do IBGE. Em todo o país, o setor movimenta mais de R$ 50 bilhões por ano e é responsável por cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de desde 2015 o artesão ser reconhecido como profissão, ainda há muito a ser trilhado para que a atividade seja valorizada e sobretudo bem remunerada.

Isso passa por um novo olhar sobre o trabalho artesanal e ampliação da presença no mercado nacional e internacional, lutas que o Sebrae no Rio Grande do Norte levanta há mais de duas décadas. “Atuamos na valorização desse trabalho por meio de diversos projetos promoção da cultura no estado e estimulando o acesso a novos mercados. O Sebrae tem atuado para levar a visão da gestão de negócio também para o artesanato. É preciso o artesão se enxergar como empresa”, afirma a analista técnica do Sebrae-RN.

Segundo Ana Ubarana, o desafio é manter a tradição do fazer manual com a adaptação as novas formas de atuar no mercado. “É necessário criar processos para promover a inovação em produtos e processos que facilitem o desenvolvimento de produtos, o relacionamento com o cliente e a forma de gerar negócios por meio dos canais digitais”, diz ela.

Na data dedicada a esses artistas, homens e mulheres que passam horas e até mesmo dias imbuídos na tarefa de tornar simples objetos em uma arca de memórias, a coordenadora do Programa do Artesanato do Estado do Rio Grande do Norte (Proart-RN), Graça Leal, destaca o poder transformador que a atividade traz e até para mudar vidas. “Temos que pensar o artesanato como memória afetiva, como resistência, como empoderamento, como arte criativa dentro de um contexto transformador, capaz de revelar invisíveis artesãos através de suas prodigiosas e criativas peças artesanais”, diz a coordenadora.