A programação da tarde do Encontro Regional do Projeto Pró-Catadores, realizado nesta quarta-feira (24) em Pau dos Ferros, foi marcada por momentos de inspiração, aprendizado e valorização do trabalho dos catadores. O evento reuniu cerca de 180 participantes de 17 municípios das regiões Oeste e Alto Oeste do Rio Grande do Norte, todos envolvidos com a coleta seletiva e a reciclagem de resíduos sólidos.
Um dos destaques foi a participação do mágico e artista Rian Razzani, com a apresentação “Resíduo muda o rumo da sua história: a mágica está em suas mãos”. De forma lúdica, ele utilizou números de ilusionismo, contação de histórias e a interação com o público para mostrar o potencial de transformação presente nos resíduos. “É preciso ver a coleta seletiva não só como meio de sobrevivência, mas também como empreendedorismo e oportunidades”, destacou Razzani.
Em seguida, o catador Luan da Silva, representante da Rede Centcoop e da Associação Recicla Brasília (DF), trouxe sua trajetória no setor com a palestra-depoimento “Do coletivo ao negócio: boas práticas dos catadores da Cooperativa de Recicláveis de Brasília”. Ele contou que seguiu os passos do pai, também catador, e que tudo o que conquistou, como casa e família, foi resultado do trabalho com a reciclagem.
Luan explicou que a Rede Centcoop abriga 12 cooperativas e associações, além de 12 filiadas de outras localidades, mostrando a força da união.
“A gente vendendo em rede pode agregar e consegue um valor maior. Alguns materiais o atravessador não compra, mas a indústria adquire quando está em grande volume”, explicou.
Ele citou parcerias em Brasília com uma marca de café e uma empresa de sandálias, que solicitam aos catadores a separação dos materiais das respectivas marcas — como cápsulas de café e sandálias descartadas — e os remuneram pela entrega.
O catador também denunciou a discriminação estrutural que a categoria enfrenta, lembrando a dificuldade que teve para conseguir um cartão de crédito ao informar sua profissão. Para ele, estar em rede é fundamental para fortalecer o setor, evitando o trabalho isolado e garantindo maior poder de negociação. “É o presidente do grupo que precisa negociar os valores. Assim conseguimos salários melhores e uma perspectiva de futuro para todos”, defendeu.
Além das palestras, o encontro contou com momentos de cultura e descontração. Os artistas Ricardo Buiu e Demmy interagiram com os participantes, levando leveza e animação à programação da tarde.
Bagagem de novas ideias
Durante o encontro, catadores do interior do estado também compartilharam suas experiências. Sebastião de Sousa, de São Miguel, destacou a importância desses momentos para gerar novas ideias além da prática diária. Já Josefa Avelino, fundadora da Associação Comunitária Reciclando para a Vida, primeira associação de catadores de Mossoró, relembrou seus 26 anos de atuação e a resistência necessária para manter o trabalho.
“Seguimos pela resistência, coragem e garra, acreditando que um dia vai ficar melhor. Esses encontros fortalecem o setor, mostram histórias de outros municípios que estão se organizando e firmando parcerias. A gente vê empresa privada se preocupando em dar destinação ao resíduo, prefeitura apoiando, escolas fazendo educação ambiental. Isso é um trabalho digno para a nova geração”, afirmou Josefa.