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Iniciativas do Sebrae revelam força do empreendedorismo rural no RN

Impulsionados pelo apoio da instituição, agricultores familiares do Assentamento Favela, em Mossoró, criaram agroindústria para processamento de polpa de frutas
Por Redação
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O desenvolvimento de programas voltados ao apoio e ao despertar do potencial empreendedor está ajudando a transformar a realidade de pequenos produtores no Rio Grande do Norte. No Assentamento Favela, zona rural de Mossoró, o estímulo ao empreendedorismo posiciona homens e mulheres do campo como protagonistas na geração de novos negócios e no fortalecimento da agricultura familiar, a partir da instalação de uma agroindústria de beneficiamento de polpa de fruta.

Equipe do Sebrae-RN em visita à unidade de beneficiamento de polpas.

A concretização do negócio familiar é recente – a produção começa na próxima semana – mas o sonho, não. A semente foi plantada 20 anos atrás, quando o então carvoeiro Fabiano Francelino e a esposa Gessina de Oliveira participaram do curso de Qualidade Total Rural da Fruticultura (QT Rural), desenvolvido na comunidade pelo Sebrae no Rio Grande do Norte.

Do período, o agricultor mostra, orgulhoso, a foto e o certificado que comprovam a participação naquele momento, considerado por ele como histórico, e que marcou o início da transformação pela qual passaria a família.

“Eu trabalhava cortando lenha e fazendo carvão. Clandestino. Quando eu terminei esse curso, ele me despertou. Eu digo que o Sebrae salvou nossas vidas. Depois do curso comecei a pensar no que fazer, comprei uma máquina, parcelada em duas vezes, para fazer caixa de abelha, e minha mulher começou a fazer doces para vender num programa do governo, e as coisas foram melhorando. De lá para cá, a gente fez outros cursos e agora estamos concretizando esse sonho, que é produzir polpas”, relembra.

Toda a produção da unidade de processamento será feita a partir de frutas produzidas no lote da própria família, numa área que abrange 30 hectares, onde está instalado um pomar com seis variedades frutícolas.

Jessica Oliveira, uma das filhas do casal, conta que a alta produtividade do pomar foi um alerta para que a família pensasse em uma nova modalidade de negócio. Apesar de fornecer frutas à cooperativa da qual fazem parte, a produção excedente ainda era volumosa e o desperdício, inevitável.

“A gente se viu diante de um problema. A cooperativa não recebia toda nossa produção de frutas e foi aí que a gente viu a necessidade de processar a polpa, para escoar as frutas que estavam se perdendo, e aí, mais uma vez, chegou o Sebrae, dessa vez, junto com a Prefeitura, através do Mossoró Rural”, detalha.

Estímulo ao empreendedorismo

O Programa Mossoró Rural, citado por Jéssica, é realizado pelo Sebrae-RN em parceria com a Prefeitura de Mossoró e tem atuação direta nas áreas de gestão e tecnologia. As ações conjuntas de fomento ao empreendedorismo no campo já impactaram, em dois anos, aproximadamente de 1.500 produtores rurais, de oito cadeias produtivas no município de Mossoró.

Por meio das ações do programa, o sonho da família ganhou forma e sabores. As consultorias oriundas de Mossoró Rural ajudaram na regularização do negócio, que obteve o registro, com o Selo de Inspeção Municipal (SIM), como agroindústria familiar de polpa de fruta. A certificação permite que as polpas, denominadas de Sabores da Agricultura, sejam comercializadas em todo o Brasil.

“Quando surgiu a oportunidade de legalizar a fábrica, a gente não estava com condições financeiras para isso, e foi aí que a gente foi inserido no Mossoró Rural. Recebemos as orientações pelas consultorias do Sebraetec, e isso teve um impacto muito grande, porque legalizamos e agora podemos vender nossas polpas para todo o país”, Jessica.

Tamanha a relevância no despertar do potencial empreendedor da família, que as consultorias e capacitações desenvolvidas pelo Sebrae-RN viraram objeto de trabalho acadêmico apresentado por três filhas do casal que cursam Educação do Campo, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).

“Em uma das disciplinas, precisamos fazer um trabalho sobre políticas públicas voltadas à comunidade, e lembramos do primeiro curso do Sebrae, lá no começo. Nossa família não tinha perspectiva. Pai, mãe e minha irmã mais velha trabalhavam com carvão, e o Sebrae trouxe o curso, que mudou e segue mudando nossas vidas”, relembra, emocionada.

Segundo dona Gessina, a meta inicial é processar até 500 quilos de fruta por dia. A câmara fria da unidade está repleta de dezenas de caixas e embalagens, contendo a matéria-prima que logo será transformada em milhares de pacotes, com 250 gramas de polpa. Inicialmente, seis sabores serão processados na fábrica: maracujá, acerola, goiaba, caju, cajarana e tamarindo.

“Acabamos de receber os rótulos e agora vamos começar a produzir. Como estamos no início, serão polpas de uma fruta por dia. Estamos muito felizes e esperançosos de que as coisas melhorem mais a cada dia. Com a ajuda dos nossos parceiros, esperamos ter boas vendas, ter comércio para as polpas, e, no futuro, crescer, ser uma referência”, prevê.

Mãos dadas

Em visita na quinta-feira (27) à unidade de beneficiamento de polpas, o diretor Técnico do Sebrae-RN, João Hélio Cavalcanti, ressaltou o papel crucial dos programas de capacitação no estímulo ao empreendedorismo. Ao conhecer a estrutura de processamento, ele reforçou o apoio do Sebrae à continuidade de ações voltadas ao fortalecimento do negócio.

“O que vemos aqui é um exemplo clássico de como pode ser decisiva a presença de programas que estimulem a criatividade e o potencial empreendedor. A gente fica muito feliz quando ver que, um curso lá em 2004, junto com capacitações mais recentes, foram capazes de transformar a vida de uma família inteira. Mostra que realizamos um importante trabalho, que terá sequência para que o empreendimento se fortaleça”, avalia.

Com esse ideal, o gestor de Fruticultura do Sebrae-RN, Franco Marinho, explica que a unidade de processamento de polpas terá acompanhamento, com ações direcionadas às áreas de custo de produção, formação de preço e acesso a mercado.

“A partir de agora, o foco são consultorias focadas na gestão do negócio, na precificação e, principalmente, as ações que favoreçam a aproximação comercial para que consigam acessar o mercado e comercializar as polpas, a exemplo da participação na Festa do Bode, que acontecerá em julho, em Mossoró”, detalha.

Diante do atual cenário vivenciado pela família, o patriarca Fabiano não esconde o otimismo, ao vislumbrar as oportunidades que surgirão a partir da concretização do antigo sonho. Diante de lembranças do passado, celebra os motivos para continuar sonhando.

“Eu nunca tinha imaginado estar onde estamos. Não imaginava ter filho na faculdade, e hoje tenho. As coisas vão clarear muito mais para a família toda. Daqui para frente, tudo será melhor. Fui motivado para chegar aonde chegamos. Se não fosse o papel do Sebrae, eu estaria numa situação difícil, e agora vamos mais longe”, comemora.