Catadores de 14 municípios do Seridó participaram, nessa quarta-feira (26), em Caicó, do 8º Encontro de Catadores para Catadores do Seridó, realizado no Centro Pastoral Dom Wagner. O evento foi promovido pela Cáritas Diocesana de Caicó, Rede Recicla Seridó, Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Região do Seridó (COOPCASE) e Sebrae-RN, por meio do Projeto Pró-Catador. A edição reforçou o avanço das políticas de organização da categoria na região e destacou a parceria entre Sebrae e Cáritas para fortalecer associações e ampliar a coleta seletiva.
Presente no Rio Grande do Norte desde fevereiro de 2025, o Pró-Catador atua no apoio à formação, profissionalização e fortalecimento de cooperativas e associações. A iniciativa superou a meta inicial — de atender 30 municípios — e hoje chega a 46 localidades, graças à adesão das prefeituras e ao envolvimento das organizações de catadores. O projeto já beneficia 430 trabalhadores, entre catadores autônomos e integrantes de 30 grupos coletivos.
A analista do Sebrae-RN gestora do Pró-Catador, Maricélia Morais, destacou que o encontro permitiu nivelar desafios e aproximar realidades semelhantes entre os trabalhadores.
“O evento foi importante para que os catadores percebam que as dificuldades se repetem: controle financeiro, registros, entendimento do próprio ganho. Trabalhamos para que enxerguem a atividade como um negócio e tenham dignidade e reconhecimento pelo serviço prestado à sociedade”, afirmou a gestora.
Maricélia reforçou que a Lei Federal de Resíduos Sólidos prevê remuneração aos catadores — ainda pouco aplicada no país — e explicou que o Sebrae presta apoio desde a constituição das entidades, elaboração de legislações, criação de planilhas simplificadas e formalização de grupos.
“Quando submetemos o projeto Pró-Catador ao Sebrae Nacional, buscamos parceiros locais. E no Seridó encontramos um trabalho muito estruturado da Cáritas Diocesana, por meio da Rede Recicla. Nosso objetivo principal nessa parceria é fortalecer a comercialização em rede, reduzir a dependência dos atravessadores e ampliar a competitividade da cooperativa”, justifica a analista do Sebrae.
A catadora Eva Barros, da Cooperativa Renove (DF) e diretora da Rede Centcoop, foi palestrante convidada pelo Sebrae e, durante o encontro de catadores do Seridó, apresentou a experiência brasiliense e ressaltou a importância da autonomia financeira. “Em Brasília temos contrato com o governo e trabalhamos por hora dentro da cooperativa. O catador é dono do próprio negócio; precisa de organização e estratégia para alcançar uma renda melhor. Muitos municípios ainda não incentivam, e isso afeta diretamente o ganho dos trabalhadores”, afirmou.
15 anos de mobilização no Seridó e desafios permanentes
A educadora social da Cáritas de Caicó, Silvana Azevedo, destacou a trajetória do trabalho com catadores, iniciado em 2010 após a Campanha da Fraternidade. A partir de oficinas e organização coletiva, a Cáritas ajudou a formar nove associações e uma cooperativa regional, que hoje funciona como guarda-chuva das entidades.
“Tirar os catadores dos lixões e levá-los para galpões organizados é resultado de anos de trabalho. Mas ainda temos dois gargalos: educação ambiental e apoio insuficiente do poder público. A coleta seletiva só funciona se a população separar o resíduo e se os municípios assumirem sua responsabilidade”, afirmou a educadora social.

Silvana destacou a necessidade de manutenção, EPIs, logística e galpões, geralmente dependentes de termos de parceria com prefeituras. O grande objetivo da Rede Recicla é adquirir estrutura própria para a cooperativa — inclusive veículos — e fazer a comercialização direta com a indústria.
Governo do Estado reconhece avanço regional e articulação institucional
O assessor especial da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN, Sérgio Pinheiro, destacou a importância da estruturação da rede de catadores no Seridó. “Este é um trabalho que começa nas associações, passa pela cooperativa e ganha força com a chegada do Sebrae, que traz gestão e empreendedorismo. Quando mais de dez municípios atuam em conjunto, há escala, competitividade e capacidade de comercialização”, disse.

Ele reforçou o alinhamento com os investimentos do PAC: “estamos trabalhando em 25 municípios com um programa de R$ 21 milhões para aquisição de veículos, construção de galpões e equipamentos. Essa rede organizada tem total capacidade de acessar e potencializar esses investimentos”.


