A oitava edição do Encontro de Catadores para Catadores do Seridó reuniu, nessa última quarta-feira (26), em Caicó, trabalhadores de 14 municípios em uma programação dedicada ao fortalecimento da coleta seletiva, valorização profissional e construção de políticas inclusivas. Realizado no Centro Pastoral Dom Wagner, o evento é uma iniciativa da Cáritas Diocesana de Caicó, Rede Recicla Seridó, Cooperativa de Trabalho dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do Seridó (COOPCASE) e Sebrae-RN, por meio do Projeto Pró-Catador.
Participaram catadores e catadoras de Caicó, Florânia, Lagoa Nova, São Vicente, Acari, Jardim do Seridó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Ipueira, Santana do Seridó, Parelhas, Currais Novos e Timbaúba dos Batistas, alguns deles já atendidos pelo Sebrae por meio do Pró-Catador, outros acompanhados pela Cáritas.
Para Pedro Medeiros, gerente da Agência Sebrae Seridó Ocidental, o encontro reforça laços fundamentais entre instituições, cooperativas e trabalhadores. “Foi uma programação para fortalecer arranjos, unir instituições e ampliar o reconhecimento da categoria”, destacou Pedrinho do Sebrae, lembrando que a Agência em Caicó mantém um ecoponto ativo e a comunidade do entorno abraçou de forma exemplar a prática da coleta seletiva. “É contagiante a alegria com que os catadores chegam ao Sebrae. Eles transformam o ambiente e nos motivam semanalmente”, afirmou.
A analista do Sebrae e gestora do Projeto Pró-Catador, Maricélia Morais, reforçou a necessidade de enxergar os catadores como profissionais que prestam um serviço essencial para as cidades e para o meio ambiente. Em sua fala, ela traçou um paralelo: “O Sebrae é como um médico para ajudar negócios a encontrarem soluções”.
Ela lembrou que o projeto atua na formação de associações, na formalização de catadores, na elaboração de legislações entregues aos municípios e na orientação para implantação da coleta seletiva. “Nossa meta era atender 30 municípios; hoje atendemos 46. A reciclagem gera trabalho e renda digna quando estruturada, e é isso que buscamos fortalecer”, completou a gestora do Pró-Catador.
O palestrante Júlio Ledo trouxe reflexões sobre identidade e reconhecimento. Para ele, é urgente que a sociedade entenda o papel dos catadores para o funcionamento do sistema de reciclagem no Brasil. “Por que apenas quem tem diploma é valorizado? Quem presta um serviço tão importante quanto os catadores também precisa ser reconhecido”, afirmou. Ele destacou que o trabalho da categoria é responsável por cerca de 90% da reciclagem realizada no país, segundo dados do IPEA.

“Sem catadores, não há reciclagem no Brasil. E todos precisam entender o impacto disso na vida cotidiana”, reforçou. Júlio também ressaltou que a construção de avanços depende de ação conjunta: população, governos, Sistema S, organizações da sociedade civil, empresas, institutos federais, universidades, associações e cooperativas. “Não basta ir para a rua. É preciso planejar, participar de cursos, buscar gestão empreendedora. Só assim os resultados aparecem”, concluiu o palestrante.
Catadores como agentes ambientais e sociais
A secretária adjunta de Meio Ambiente de Caicó, Orquídea Costa, destacou o papel indispensável da categoria para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Os catadores chegam onde ninguém chega. Eles contribuem diretamente com o meio ambiente, com o saneamento básico e com a organização das cidades”, afirmou.

A presidente da COOPCASE, Carina Santos, compartilhou um depoimento emocionado sobre sua trajetória e a transformação proporcionada pela Cáritas Diocesana e pelo Sebrae. “O catador tem voz, tem valor e merece espaço. Catador é força e merece reconhecimento como qualquer outra profissão”, disse.
Carina recordou desafios pessoais e como encontrou coragem para se reinventar: “transformei dor em força. Hoje quero ser conhecida como Carina do Lixão, definida pela coragem de seguir”. Ela reforçou a importância do apoio institucional: “eu só sou quem sou hoje por causa da Cáritas. Todas as portas se fechavam, até que a deles se abriu. Depois veio o Sebrae, trazendo uma explosão de esperança”, relatou.

-
A educadora social da Cáritas de Caicó, Silvana Azevedo, destacou que a coleta seletiva é um caminho para tirar trabalhadores das condições degradantes dos lixões. “Quando os catadores deixam o lixão e passam a trabalhar de forma organizada, conseguem investimentos, melhores condições e dignidade”, explicou Silvana.
Ao reunir trabalhadores, lideranças e instituições, o 8º Encontro de Catadores do Seridó consolidou um espaço de diálogo, aprendizado e fortalecimento da categoria. O evento reafirmou que a coleta seletiva é um caminho essencial para o desenvolvimento sustentável, para a economia circular e para a inclusão social na região.


